Um verdadeiro desafio para médicos e pesquisadores, um assunto delicado e sério. Quando se digita no Google “keto and cancer” aparece muita informação.
Sou apaixonada por ciência e estou sempre lendo sobre ciência aplicada à nutrição. Por isso, não era novidade para mim que a dieta cetogênica vem sendo pesquisada e usada como adjuvante no tratamento de câncer. Mas ainda não tinha me aprofundado.
Foi por causa da Dra. @janainaendocrino que comecei a estudar e pesquisar mais sobre o assunto. Ela me abriu um MUNDO de evidências para algo muito sério. Tão sério que acredito que não pode ser negligenciado.
Muitos teimam em dizer que a dieta cetogênica é anticientífica e que não há plausibilidade biológica para ser aplicada.
A plausibilidade biológica é a existência de mecanismos biológicos e físicos que tornam uma teoria possível de ser provada. Geralmente, estudos em animais ou observacionais onde preencha os critérios de Bradford Hill. Aliás foi o Dr. Bradford Hill que, nos anos 60, conseguiu demonstrar que o cigarro causava câncer de pulmão por estudos de associação (epidemiológicos).
A teoria do Dr. Otto Warburg (prêmio Nobel em 1931) em suas pesquisas sobre mitocôndrias e cadeia respiratória, descobriu que as células cancerígenas precisam de cerca de 44 vezes mais glicose que uma célula normal e produziam cerva de 100 vezes mais ácido lático. Ele afirmou que:
“O câncer tem inúmeras causas secundárias. Mas há apenas uma causa principal: a substituição da respiração do oxigênio pelas células normais do corpo. Uma fermentação de açúcar”. (1) (2)
Em uma dieta cetogênica, o corpo usa Corpos Cetônicos (CC) como principal fonte de energia. Então, se o combustível disponível no corpo será principalmente CC, como o câncer vai se alimentar?
O grupo com maior fator de risco para câncer são pessoas com Síndrome Metabólica, Obesidade e Diabetes. Todas estas doenças tem em comum a hiperinsuinemia e hiperglicemia constantes (glicose e insulina sempre altas no corpo). A insulina cronicamente alta é um fator de crescimento, inclusive para o câncer.
Para fazer um pet scam usam glicose como meio de contraste. Sabe porque será? Porque onde tem câncer vai ficar iluminado, pois o cancer consome 44 vezes mais glicose que as outras células sadias.
Temos uma metanálise em animais onde 59 estudos foram analisados. Pesquisaram o papel de restrição alimentar durante o início, progressão e metástase do câncer. O resultado?
“Cerca de 90,9% dos estudos relevantes mostraram que a restrição calórica desempenha um papel anticâncer, com a OR combinada (IC 95%) de 0,20 (0,12, 0,34) em relação aos controles. A dieta cetogênica também foi associada positivamente ao câncer, o que foi indicado por oito dos nove estudos. No entanto, 37,5% dos estudos relacionados obtiveram uma conclusão de que o jejum intermitente não era significativamente preventivo contra o câncer.”
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0115147
“A dieta cetogênica, uma dieta rica em gorduras e pobre em carboidratos e com quantidades adequadas de proteína, parece sensibilizar a maioria dos cânceres para o tratamento padrão, explorando o metabolismo reprogramado das células cancerígenas, tornando a dieta uma candidata promissora como terapia adjuvante do câncer.”
Este texto é de uma revisão de junho deste ano que avalia criticamente o as evidências disponíveis sobre a dieta cetogênica no contexto do tratamento do câncer. Além disso, fala também sobre mecanismos importantes que podem explicar os prováveis efeitos antitumorais da dieta cetogênica. Os destaques desta revisão:
- As dietas cetogênicas (DCs) podem aumentar a eficácia das terapias antitumorais clássicas.
- O efeito das DCs na proliferação depende do tipo de tumor.
- A aplicação de DCs em pacientes com câncer é geralmente bem tolerada.
- Baixo carboidrato e DCs aumentam a qualidade de vida de pacientes com câncer.
- Estudos mais padronizados são necessários antes que as DCs possam ser aconselhadas para pacientes com câncer
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2212877819304272
Se só existisse essas informações acima, já seria suficiente para dizer que sim, temos plausibilidade biológica (dica: tem mais…)
Não estou afirmando que a dieta cetogênica CURA o câncer. Mas se tem a possibilidade de ajudar no tratamento, melhorar o a recuperação e qualidade de vida do paciente, se é bem tolerada e ainda pode interferir na progressão do tumor, porque não tentar? O paciente tem o direito de saber dessas possibilidades e junto ao seu médico, escolher o melhor pra si.
Um último alerta: tratar câncer é algo complexo e sério. NUNCA faça nenhum tipo de tratamento sozinho. Procure seu médico e converse com ele:
Para saber mais: www.instagram.com/janainaendocrino/
https://www.bc.edu/sites/libraries/facpub/seyfried-cancer/book.pdf
http://dose-response.org/wp-content/uploads/2015/05/Seyfried.pdf
https://www.goodreads.com/book/show/23496164-tripping-over-the-truth
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2213231714000925
2 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2947689/